Propriedade intelectual
Estou cozinhando ele já tem umas duas semanas, mas ontem, durante o evento Universidades Corporativas, o assunto resurgiu e eu decidi terminar o texto e publicar.
Segundo a Wikipédia:
Propriedade intelectual é um monopólio concedido pelo estado. Segundo a Convenção da OMPI, é a soma dos direitos relativos às obras literárias, artísticas e científicas, às interpretações dos artistas intérpretes e às execuções dos artistas executantes, aos fonogramas e às emissões de radiodifusão, às invenções em todos os domínios da atividade humana, às descobertas científicas, aos desenhos e modelos industriais, às marcas industriais, comerciais e de serviço, bem como às firmas comerciais e denominações comerciais, à proteção contra a concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade intelectual nos domínios industrial, científico, literário e artístico.
Isso significa, em termos simples, que se você inventa alguma coisa a coisa é sua e outras pessoas só podem usar a sua coisa com a sua permissão e, normalmente, se te pagarem alguma coisa pra usá-la.
Pode me chamar de comunista mas eu acho isso o fim da picada...
Propriedade intelectual, patentes, direitos autorais.... tudo isso pra mim é uma grande bobagem. O conhecimento é da humanidade e para a humanidade. Não tem o menor sentido inventar alguma coisa e privar o mundo dela ou limitar sua utilização. É um pensamento ridículo e retrógado.
Tive meu primeiro contato com essa polêmica de propriedade intelectual quando comecei a trabalhar e tomei conhecimento do Linux.
Pra quem não conhece, Linux é um sistema operacional para computadores, assim como é o Windows, mas você não tem que pagar nada pelo Linux porque ele um Open Source ou Software Livre.
Mas a idéia de Open Source vai muito além de simplesmente ser gratuito. Quando você opta por usar um programa Open Source significa que alguém fez aquele programa e deixou TUDO dele disponível para o mundo. Com TUDO eu quero dizer que ele disponibilizou o executável do programa, pra você poder baixar da Internet e usar do jeito que quiser sem pagar nada, e disponibilizou também o código fonte do programa. Se você tem o código fonte do programa, pode alterá-lo para se adequar melhor à sua necessidade e disponibilizá-lo também para outras pessoas, como o primeiro cara fez.
Ou seja... quando alguma coisa é baseada em Open Source acaba virando um trabalho colaborativo onde cada um pode contribuir com uma melhoria aqui, outra ali e fazer do produto inicial alguma coisa muito mais eficiente ou simplesmente ter mais a sua cara.
E quando é que um trabalho fica melhor? Quando você faz sozinho ou quando um grupo de pessoas te ajuda com idéias, aperfeiçoamentos e correções?
Pois é...
Como já dizia George Bernard Shaw (escritor irlandês): "Se você tem uma maçã e eu tenho outra; e nós trocamos as maçãs, então cada um terá sua maçã. Mas se você tem uma idéia e eu tenho outra, e nós as trocamos: então cada um terá duas idéias".
Mas isso não se limita a software. Atualmente vê-se iniciativas que abrem mão da propriedade intelectual em todas as áreas e percebe-se que acabam se tornando ações onde todo mundo ganha!
Nesse link aqui tem um monte de exemplos, como o da Goldcorp, empresa de mineração de ouro que, quando se viu num beco sem saída, colocou toda a sua pesquisa a disposição na Internet para quem se propusesse a ajudá-los. Fora a Boeing e a BMW que também disponibilizaram projetos na Internet para que o público os ajudassem com novos designs de aviões e carros...
E as pessoas achavam o Linux Torvalds (desenvolvedor do Linux) e o Richard Stallman (idealizador do projeto GNU e da licença GPL) malucos. (aliás... por falar em Richard Stallman... as palestras dele sobre propriedade intelectual e software livre são maravilhosas... tem várias no Youtube... vale muito a pena procurar)
Agora não estamos mais falando de um sistema operacional gratuito em quem muita gente ainda não bota uma fé. Estamos agora falando de empresas grandes, com negócios importantes e altamente tecnológicos. Estamos falando de projetos que antes seriam considerados altamente sigilosos e que agora são colocados na Internet para que mais gente possa colaborar com o desenvolvimento das pesquisas.
Isso significa que a empresa ganha muito mais pedindo ajuda pro mundo do que escondendo a coisa toda e tentando fazer tudo sozinha num cantinho. Ou você acha que a Goldcorp fez isso só porque é boazinha e não está ganhando nada com a divulgação de seus dados? Nem a possibilidade de as empresas concorrentes terem acesso aos dados foi impeditivo para que eles divulgassem estes dados e adotassem esta estratégia de negócio.
Então... por que ainda temos essa bobagem de propriedade intelectual?
O que me fez lembrar disso novamente no evento de ontem foi a pergunta de uma das participantes sobre geração de conteúdo de elearning por terceiros.
Ok... deixa eu explicar antes...
O evento de ontem foi sobre o que as empresas estão fazendo para treinar colaboradores e a grande maioria está adotando soluções de educação à distância. Por causa disso, várias empresas estão surgindo para oferecer serviços de produção de treinamentos personalizados para outras organizações.
Então... a preocupação desta senhora na palestra era a de contratar uma XPTO para confeccionar um treinamento para ela e que a empresa XPTO depois, usasse o material deste treinamento para produzir treinamentos de empresas concorrentes... Ou seja... a preocupação dela era com a propriedade intelectual do treinamento que seria produzido para ela com conhecimento dela ou da equipe dela.
Pra minha satisfação, o pessoal da ESAB, que é a maior escola de educação à distância do Brasil, está com um projeto de disponibilizar, não só seu software de administração de elearning, como também os treinamentos que já possuem, no formato Open Source.
Isso porque eles já perceberam que a idéia é compartilhar e não guardar na caixinha e isso me deixa muito feliz! Já perceberam que eles podem ganhar de outras formas (consultorias, produção de treinamentos específicos, etc) e que podem divulgar o conhecimento deles sem medo de perderem. Só tem medo de perder quem não sabe fazer bem alguma coisa. O medo, na verdade, é de que alguém comece a fazer a mesma coisa, melhor... esse é o grande lance...
O ponto chave disso tudo é: se você é muito bom em fazer biscoitos de aveia, não importa que outra pessoa consiga a sua receita e comece a fazer os mesmos biscoitos... as pessoas vão continuar comprando de você, porque os seus são muito bons! Tendeu?
Bem... acabei escrevendo muito mais do que eu esperava... mas acho que valeu a pena. Falei tudo o que eu queria falar sobre o assunto e vou colocar no Netfinders também... :) Só sugiro fortemente que ouçam o que Richard Stallman tem a falar sobre o assunto também. É muito interessante mesmo e pode abrir sua mente para um jeito diferente de pensar que pode trazer benefícios pra você e para o mundo.
Vamos pensar como raça humana, não como indivíduo!
(Osmar, se você lê o Coisa sei que vai odiar esse post... mas eu gosto de você mesmo você sendo um capitalista selvagem... hehehe)